D. Carlos I, também conhecido como "o Diplomata", "o Martirizado" e "o Oceanógrafo", foi o penúltimo rei de Portugal, reinando de 1889 até ao seu assassinato em 1908.
Nascido a 28 de setembro de 1863 no Palácio da Ajuda, em Lisboa, D. Carlos era filho do rei D. Luís I e da rainha Maria Pia de Saboia. Recebeu uma educação intensa e foi preparado para governar como monarca constitucional. Viajou por várias cortes europeias, aumentando o seu conhecimento sobre a civilização moderna da época.
Foi assassinado a 1 de fevereiro de 1908, juntamente com o seu filho mais velho, o príncipe Luís Filipe, na Praça do Comércio, em Lisboa. Este evento, conhecido como o Regicídio de 1908, marcou um ponto de viragem na história de Portugal e contribuiu para a queda da monarquia em 1910.
O monarca tinha uma relação muito próxima e especial com Cascais. Ele e a família real passavam longos períodos na Cidadela que se tornou uma das suas residências favoritas. Esta ligação começou com o seu pai, D. Luís I, que também apreciava a vila e a sua proximidade ao mar.
D. Carlos I era um apaixonado pela oceanografia e utilizava Cascais como base para muitas das suas expedições científicas. Ele conduziu várias campanhas oceanográficas a partir da vila, contribuindo significativamente para o estudo dos mares portugueses.
O rei promoveu várias atividades desportivas aqui, incluindo regatas e competições de tiro, que atraíam a elite da sociedade portuguesa e estrangeira. Estas atividades ajudaram a transformar Cascais num centro de lazer e desporto.
Os iates Amélia estavam frequentemente ancorados em Cascais onde D. Carlos I passava muito tempo e realizava muitas das suas expedições oceanográficas. Com a sua localização costeira e proximidade a Lisboa, era um local ideal para as atividades marítimas do rei.
A vida a bordo dos iates reais era uma combinação de luxo, ciência e aventura. Equipados com todas as comodidades necessárias para garantir o conforto da família real e dos convidados, com as suas cabines luxuosas, salas de estar elegantes e espaços para refeições formais.
A partir da segunda metade do século XIX, o serviço à russa já se encontra implementado na corte portuguesa, por oposição ao serviço à francesa praticado anteriormente.
O principal prato das refeições é o assado, ou seja, o “rôti”, sendo o peru a ave que alcança mais prestígio, ocupando o lugar maior nos banquetes e ocasiões solenes, como atesta o menu do jantar Grande em honra dos oficiais da esquadra russa, servido no Real Paço de Cascais em setembro de 1893.
Os menus são subsidiários deste novo serviço, uma vez que os comensais necessitam saber o que lhes será servido. Assim, o menu, manuscrito ou datilografado, num pequeno cartão, normalmente apresenta -se enquadrado por um desenho ou aguarela. Redigidos em francês, narram a estrutura da refeição, que difere em número de pratos no que respeita ao almoço e ao jantar, sendo o último mais complexo. O rei D. Carlos tem apreço por menus. Ademais, a coleção de menus da Casa Real de Bragança é extensa e significativa. No período em que habita o Paço das Necessidades, entre 1889 e 1908, o rei colige um álbum de menus das refeições mais importantes oferecidas pela Casa Real, incluindo igualmente menus de diferentes palácios e lugares onde se hospedam. A esta coleção somam -se outros dispersos sobretudo respeitantes ao reinado de D. Carlos e de D. Manuel II, reveladores das refeições associadas a eventos familiares, a viagens, a receções de figuras internacionais, não olvidando o seu quotidiano familiar, onde se destacam os passeios, os piqueniques e as estadias a bordo do iate Amélia. São particularmente interessantes os últimos. Ao contrário dos restantes, que seguem a norma da redação em francês, estes têm a singularidade de serem redigidos em português e decorados por D. Carlos, umas vezes com belas aguarelas, noutras ocasiões, iluminados a carvão e lápis de cor sobre cartão. Destacam -se, nestas refeições, pratos com categórico traço da cozinha portuguesa, pontuados por iguarias de cariz internacional. Resgatemos desses menus iguarias associadas à matriz da cozinha tradicional portuguesa como o “pão de ló”, as “favas à portugueza”, os “capões com arroz”, o “leitão assado”, os “bifes à Portugueza”, a “canja de galinha”, o “arroz de pato no forno” e os célebres “bolos de bacalhau”, cuja receita, de 1904, publicada durante o reinado deste monarca pelo seu homónimo Carlos Bento da Maia, corresponde à codificação do que se entende ser a tradicional e que pode experimentar[1].
A ligação do monarca a Cascais é ainda hoje celebrada com monumentos, como a Estátua de D. Carlos I (na imagem), localizada perto da Marina, e o Museu do Mar Rei D. Carlos I que homenageiam os seus contributos para a oceanografia e a biologia marinha. A sua presença e influência ajudaram a moldar Cascais como um importante destino turístico e cultural em Portugal.
[1]Carlos Bento da Maia, Tratado Completo de Cozinha e de Copa, 1904.