Fernando Pessoa, o grande poeta português e também, filósofo, dramaturgo, ensaísta, tradutor, publicitário, astrólogo, inventor, empresário, correspondente comercial, crítico literário e comentarista político teve uma ligação muito forte à nossa terra.
Embora seja mais conhecida a sua relação com Lisboa, nos últimos anos de vida manteve uma afinidade muito forte com Cascais. Passava fins de semana e outros períodos de tempo em São João do Estoril onde residia a sua irmã. Chegou mesmo a escrever uma extensa reportagem sobre a colónia infantil Macfadden nos Banhos da Poça, compondo uma narrativa que tem como cenário uma “Casa de Saúde de Cascais”. Foi, também aqui que se dedicou à poesia.
Em carta à sua amada Ofélia, escreve:
O que lhe disse de ir para Cascais (Cascais quer dizer um ponto qualquer fora de Lisboa, mas perto, e pode querer dizer Sintra ou Caxias) é rigorosamente verdade: verdade, pelo menos, quanto à intenção. Cheguei à idade em que se tem o pleno domínio das próprias qualidades, e a inteligência atingiu a força e a destreza que pode ter. É pois a ocasião de realizar a minha obra literária, completando umas coisas, agrupando outras, escrevendo outras que estão por escrever. Para realizar essa obra, preciso de sossego e um certo isolamento. Não posso, infelizmente, abandonar os escritórios onde trabalho (não posso, é claro, porque não tenho rendimentos), mas posso, reservando para o serviço desses escritórios dois dias da semana (quartas e sábados), ter de meus e para mim os cinco dias restantes. Aí tem a célebre história de Cascais.
Pessoa & Queiroz, 2012
Ofélia foi sua colega de trabalho num escritório comercial em Lisboa. Quando se enamoraram, ele tinha 32 e ela 19 anos. O poeta apaixonou-se e assim se iniciou uma troca de correspondência entre os dois. Cartas que Ofélia tornou públicas na década de 1970, quase 40 anos após a morte do poeta.
No ano de 2013 realizou-se uma exposição no Museu-Biblioteca Condes de Castro Guimarães, para evocar os 125 anos do nascimento de Pessoa, recriando aquele que poderia ter sido o seu gabinete, tivesse ele conseguido o cargo de conservador-bibliotecário do Museu. Em 1932 movido por uma grande vontade de viver em Cascais, na busca de algum sossego, candidata-se, mas sem sucesso, ficando Carlos Bonvalot com o lugar.
Na exposição exibiram-se documentos do seu espólio, entre eles alguns inéditos como projetos comerciais em Cascais e a novela policial à volta de Aleister Crowley. Pessoa ter-se-à encontrado em Cascais, com este mago, um dos nomes mais importantes do esoterismo do século XX, decorria o ano de 1930. O autor de a Mensagem era dono de uma faceta mística e esotérica, pouco conhecida. Depois de algumas trocas de cartas entre ele o influente ocultista britânico, Crowley veio até Portugal para conhecer o poeta e descansar na Costa do Sol, no Hotel Miramar. Fernando Pessoa irá viver uma grande aventura ao seu lado, envolvendo a simulação do suicídio de Crowley na Boca do Inferno. Pouco se sabe sobre o que realmente se terá passado, mas a verdade é que deu origem à novela policial O Mistério da Boca do Inferno, romance policial, sobre um detetive inglês fictício, que teria sido destacado para investigar o desaparecimento de Aleister Crowley.
O autor do slogan de lançamento, em Portugal, da Coca-Cola – Primeiro estranha-se, depois entranha-se – fez referência a bolos, figos, chocolates, nozes, queijos e sardinhas em alguns dos versos de suas obras. Apreciador de pastéis de bacalhau, galinha com molho de curry, ovos com chouriço, tinha como seu prato de eleição o arroz doce.
Na obra Fernando Pessoa O Romance da autoria de Sónia Louro é mencionada uma refeição na Cervejaria Jansen, em Lisboa, entre o nosso poeta e Crowley. É num dos diálogos desse romance que descobrimos que Amêijoas à Bulhão Pato era o prato da ementa que Pessoa recomendava por ser o seu favorito. A pensar nesse fruto do mar que abunda na nossa costa, resolvemos partilhar consigo a receita de Amêijoas à Guincho. Temos a certeza que se Fernando Pessoa provasse este prato do receituário de Cascais escreveria um poema em sua honra.