Maria Helena Neves nasceu na Assafora, uma aldeia perto de Sintra, há 77 anos e desde os 20 que o Mercado da Vila se tornou uma segunda casa. O seu sorriso doce (agora ocultado pela máscara) abraça-nos e tem as cores das frutas vendidas na sua banca. Uma pessoa com estórias de outros tempos.
Aos 14 anos serviu em casas de família, como tantas outras jovens da sua idade. Uma vida nem sempre fácil, que as fazia ansiar por um casamento. O matrimónio poderia significar liberdade. Para a Maria Helena significou, sem dúvida. Encontrou a liberdade ao lado do marido, hoje com 90 anos, e no Mercado da Vila em Cascais, onde ele já trabalhava desde miúdo.
Deixou a casa do ‘patrão’ e dedicou-se à agricultura e à venda de fruta e legumes. Um marco na sua vida – “Porque foi onde eu ganhei algum dinheiro.” Há 60 anos vendia-se à chuva. Helena abrigava-se debaixo de um chapéu grande ou colocava uma saca na cabeça. Não existiam bancadas, os produtos eram vendidos no chão, em cima de sacas de sarapilheira. “Levava-se um fogão para fazer o comer.” Outros tempos dos quais guarda boas recordações, principalmente das suas clientes que também eram amigas. “Muitas já não se encontram entre nós”. Nessa altura as vendas eram muito diferentes “tudo o que se levava vendia-se... Não existiam as grandes superfícies.”
O filho nasceu praticamente no Mercado da Vila e talvez por isso lhe corra no sangue a paixão por esta vida. Desistiu dos estudo porque o que o movia era andar com pais na venda. Hoje o negócio é dele. Mas a Maria Helena continua a alegra-nos com a sua presença no Mercado. Sente-se em família e enquanto puder estará rodeada de frutas, de legumes, de pessoas e de conversas soltas, porque o que ela mais aprecia é o convívio – “Eu gosto muito de falar.”
Para esta vendedora, Cascais representa muitos anos de trabalho. Cinquenta e sete, mais precisamente. Uma vida. Nós gostamos quando ela nos alegra com a sua boa disposição no recinto do Mercado da Vila. Adoça-nos a vida com as suas frutas e o coração com a sua gentileza.
Apesar de não gostar assim tanto de cozinhar foi ela a responsável pela informação sobre a receita de Arroz-Doce Saloio presente no livro Receitas de Reis e Pescadores. Diz que desde sempre o prepara para a família nas épocas festivas. "Não há festa, romaria ou casamento sem um arroz—doce.” Confessa que o que lhe dá mais prazer cozinhar é um cozido a portuguesa, com boa carne e bons legumes, dos produzidos por nós... Claro!”
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