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De manjerico no coração

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De manjerico no coração
8 de Junho
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Santos Populares em Cascais
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Quando pensamos em Santos Populares, a nossa veia bairrista começa a dançar nos bailaricos de Lisboa e do Porto. Mas Cascais, também, tem tradição. O nosso coração bate pelo Santo casamenteiro e por isso dia 13 de Junho é feriado no concelho. Este ano as marchas não saem à rua, nem as sardinhas perfumam o ar das noites de arraiais. Adiamos a festa para o ano que vem, quem sabe? Mas ainda assim queremos celebrar, nem que seja através das vozes de quem há muitos anos vive esta festa de manjerico no coração.

Texto da notícia

Em Cascais os arraiais já são antigos. As ruas das povoações enchiam-se de gente e de festa. Para os lados de Janes chegavam a ser 50 as fogueiras que ardiam nas ruas. As crianças apanhavam a lenha e construíam grandes montes que depois eram ateados. A tradição ditava que nas vésperas dos dias dos Santos tinha que se saltar a fogueira em número ímpar de saltos e no mínimo três vezes,  assim ficava-se protegido de todos os males durante o ano. 

A minha mãe e tio falam que o arraial passou para a sociedade há 45 anos, nem sempre regular, mas há cerca de 30 que se faz todos os anos. As primeiras vezes que a marcha de Janes saiu da Sociedade foi no início de 80. Começou a participar nas marchas de Cascais em 1988.

Segundo Lucélia Correria, também se queimavam alcachofras e as sardinhas sempre foram tradição, nesta época de festividades, mas nem sempre se comiam por serem caras. A mãe de Lucélia, a D. Margarida Correia, diz que se lembra das casas serem enfeitadas com sardinheiras. 

Era precisamente das marchas que queríamos falar! Descobrimos que uma colega de trabalho da Câmara Municipal de Cascais (CMC), a Laura Carriço, cantou na Marcha da Sociedade Familiar Recreativa da Malveira da Serra entre 1981 e 1993. Ela recorda com alegria que a autarquia organizava a agenda dos desfiles e que durante o mês de Junho era uma azáfama com tantas atuações. Nessa altura a CMC promovia um concurso onde participavam várias coletividades do Concelho. O desfile começava no Passeio Maria Pia e ia até ao Pavilhão do Dramático de Cascais. Cada coletividade apresentava a sua marcha e a marcha obrigatória daquele ano. A Sociedade Familiar Recreativa da Malveira da Serra recebeu o prémio da melhor música, durante anos consecutivos e em 1996, gravaram uma cassete, no Estúdio da Valentim de Carvalho.


Lembro-me como se fosse hoje. Estava bastante nervosa, porque era a primeira vez que me via naquela situação, mas fiquei muito feliz, porque correu muito bem e sentia um enorme orgulho quando ouvia a minha voz, a percorrer o concelho de Cascais, de forma a divulgar as marchas, numa das carrinhas que andava a fazer a respetiva publicidade.


Para os lados do Livramento as barraquinhas de madeira decoradas com palmeiras eram um grande sucesso. Vendiam a tradicional sardinha, bifanas, entrecosto, frango, caracóis e filhós. Sim! Leram bem, filhós. Pelo menos no Livramento eram e continuam a ser as estrelas do Arraial. Achava que esta iguaria só ia para a mesa no Natal e no Carnaval? Nada disso! Nos Santos as filhós saem à rua e juntam-se à festa. Esgotam num abrir e fechar de olhos. A D. Maria da Luz dos Santos Barradas partilhou connosco a receita da Beira Baixa, importada para Cascais, que faz parte do livro Receitas de Reis e Pescadores (da CMC) e que congrega o património gastronómico do nosso concelho. Em tempos idos a festa era animada por discos! Belas recordações. Depois com o passar dos anos o vinil deu lugar aos conjuntos musicais que se tornaram os responsáveis pelo sucesso do bailarico. As marchas também faziam parte das celebrações, e contou-nos a D. Maria da Luz dos Santos Barradas, que recentemente encontraram letras de duas marchas com mais de 50 anos. Se houvesse festa este ano, teria lugar no largo da Igreja como é habitual e talvez repetissem a receita. Confesso que por aqui ficámos com água na boca.

Os Santos Populares de 2020 ficam em casa. Mas a boa notícia é que as sardinhas também podem ficar. Se não tem como as assar, não se preocupe. A D. Maria da Luz dos Santos Barradas (Grupo Recreativo Livramento Estoril Clube) sugere uma receita antiga, mas talvez pouco conhecida, Costelas de Sardinha.

Compre manjericos, enfeite a sua casa, faça o bailarico na sala e escreva quadras com as crianças.