Cândido, ou o Otimista, Voltaire, Livros de Bolso Europa-América
Cândido, ou o Otimismo é uma sátira filosófica escrita por Voltaire em 1759. A obra narra as aventuras de Cândido, um jovem ingénuo que vive num castelo na Vestfália e é discípulo do filósofo Pangloss, que lhe ensina que vivemos "no melhor dos mundos possíveis". Após ser expulso do castelo, Cândido enfrenta uma série de desventuras pelo mundo, incluindo guerras, desastres naturais e perseguições religiosas, que desafiam o seu otimismo.
A obra começa com Cândido vivendo no castelo do Barão de Thunder-ten-Tronckh e apaixonado por Cunegundes, a filha do barão. Após ser descoberto beijando a sua amada, é expulso do castelo e inicia viagens por vários países, incluindo Paraguai, Itália e Turquia, onde enfrenta inúmeras adversidades, nomeadamente o terramoto de Lisboa em 1755.
Voltaire utiliza referências à alimentação para ilustrar a condição humana e as desigualdades sociais. Durante as suas viagens, Cândido por diversas ocasiões enfrenta a fome e a escassez de alimentos, refletindo as dificuldades e a miséria comum a muitas pessoas na época em apreço. Essas alusões ajudam a destacar as contradições entre a teoria otimista de Pangloss e a realidade dura e, muitas vezes, cruel do mundo.
Em oposição, a vida no castelo é descrita como abundante e luxuosa, com banquetes que simbolizam a riqueza e a opulência. Voltaire faz algumas menções ao consumo de chocolate ou cacau quente, uma bebida exótica e de luxo na Europa do século XVIII. Cândido e Martin chegam a Paris e são recebidos por uma senhora que lhes oferece chocolate quente, uma bebida que simboliza a sofisticação e o luxo da sociedade parisiense. Também em Veneza, Cândido encontra Paquette e o frade Giroflée, que mencionam o consumo de chocolate quente.
Durante o Iluminismo, o chocolate é utilizado em diferentes preparações culinárias e tem uma grande expressão o seu consumo enquanto bebida sofisticada nas elites europeias. Servir chocolate quente em salões e eventos sociais era um sinal de estatuto social e refinamento, como de resto acontecia na corte portuguesa e nos grupos sociais privilegiados. D. Mariana Vitória, mulher de D. José I, traz de Espanha, no seu enxoval, na lista das joias, uma caixa de chocolate e café. A própria D. Maria I, sua filha, possui diversas chocolateiras em prata e em folha de Flandres. Até hoje, o chocolate é frequentemente associado a presentes de luxo. Oferecer chocolates finos em ocasiões especiais é visto como um gesto de carinho e prestígio.
No final, Cândido e os seus amigos encontram um sábio turco que vive uma vida simples e frugal, cultivando seu próprio jardim e comendo apenas o necessário, o que inspira Cândido a adotar uma vida de trabalho e simplicidade, concluindo que a melhor maneira de viver é "cultivar o próprio jardim".
Delicie-se com um chocolate quente, seguindo a receita de 1870 de Paul Plantier, enquanto lê este pequeno livro tão revelador da sociabilidade setecentista.