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Confraria dos Enófilos do Vinho de Carcavelos

Confraria do Vinho de Carcavelos

Há relativamente pouco tempo, acompanhámos os alunos de Mestrado em Inovação em Artes Culinárias (ESHTE) numa visita à Adega do Casal da Manteiga, em Oeiras. Descobriram todos os pormenores sobre a produção do vinho de Carcavelos. Agora, que estamos quietos em casa, resta dessa visita a lembrança de quando era seguro estarmos juntos a fazer um brinde ao que é nosso. Com o intuito de elevar os ânimos, desafiámos a Confraria dos Enófilos do Vinho de Carcavelos para uma entrevista. 

A Confraria  dos Enófilos do Vinho de Carcavelos, constituída em 2009, tem como objectivo o estudo, a promoção e a valorização do “Vinho de Carcavelos D.O.C.” mas não fica por aqui. Tem ainda um outro objectivo tão ou mais importante quanto o anterior. Que é o de “tentar contrariar a enorme ameaça que a pressão urbanística representa para os terrenos que integram esta região demarcada, uns no município de Cascais, outros no município de Oeiras.” É propósito da Confraria “que a vitivinicultura não desapareça destes territórios e que o Carcavelos seja um vinho aberto ao mundo, fazendo jus à sua tradição histórica como embaixador dos vinhos de Lisboa.”

Esta é a mais pequena região vinícola de Portugal, e provavelmente do mundo inteiro. Tem características únicas que torna o seu vinho um marco de qualidade e excelência. Na região demarcada de Carcavelos (criada em 1908) os terrenos calcários, as temperaturas amenas, os ventos de norte e uma quase constante humidade marítima, aliados às castas utilizadas e ao facto de o vinho ser fortificado, em grande parte, “com a famosa aguardente da Lourinhã fazem com que se possa associar ao Carcavelos uma imagem moderna e de qualidade.” A Confraria fez questão, ainda, de referir que é “obrigatoriedade destes vinhos passarem por um estágio mínimo de dois anos em vasilhame de madeira e de seis meses em garrafa, a contar da data da sua elaboração” e não esquecer que “as castas recomendadas no referente às Brancas são: Galego Dourado, Boal Ratinho e Arinto e, quanto às Tintas: Periquita (Santarém ou Trincadeira) e Preto Martinho (Negra-Mole).” Para finalizar “a graduação alcoólica poderá variar entre os 17º, 5º e os 20º. Os Carcavelos são Vinhos Licorosos de Qualidade, Produzidos em Região Demarcada (VLQPRD) com Denominação de Origem Demarcada (DOC).

Sendo este nosso vinho tão especial, quisemos saber quem, além fronteiras, também é consumidor de Carcavelos.

As exportações indicam-nos que os maiores apreciadores deste vinho são a Inglaterra, os Estados Unidos da América, o Brasil e alguns países nórdicos. Apesar de existir exportação a sua produção é escassa o que o torna este vinho, um produto exclusivo. ”O volume de produção não atinge grandes números. Em 2015, o produtor Câmara Municipal de Oeiras produziu 60.450 litros de Vinho Brando Apto a Carcavelos e 1.000 litros de Vinho Tinto Apto a Carcavelos”. A Confraria refere que desconhece os números do produtor “Quinta dos Pesos” mas pensam que, nos últimos anos, não tenha efectuado produção de Carcavelos, “gerindo somente stocks de colheitas antigos que ainda possui”. Para finalizar os nossos entrevistados encerraram este ponto com uma nota final: “A Câmara Municipal de Cascais deverá, entretanto integrar também o núcleo de produtores de Vinho de Carcavelos.” 

Já foi aqui referido que o Vinho de Carcavelos é um vinho licoroso, mas também é um vinho generoso e para que não existam dúvidas pedimos que nos explicassem esta dualidade.

”Pode dizer-se que são considerados vinhos generosos, todos os licorosos produzidos em regiões demarcadas. No glossário do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) um vinho generoso é “um vinho com elevada graduação alcoólica e que, em geral, contém uma quantidade significativa de açúcares, devido ao facto da fermentação ter sido interrompida pela adição de aguardente; é um vinho muito mais doce e alcoólico do que os vinhos de mesa”. É por isso que ganha, também, mais densidade. Em Portugal são 4 as regiões demarcadas que produzem vinhos generosos: Porto, Madeira, Moscatel de Setúbal e Carcavelos. 


Já que abordámos a questão de açúcares no vinho… "Vinho doce bebe-se como se nada fosse" – E como se deve beber o vinho de Carcavelos?

“Diríamos desde logo que um Carcavelos não sendo um vinho tranquilo não deverá ser considerado como um vinho de mesa mas sim de sobremesa. Harmoniza bem com queijos, por exemplo: Gorgonzola, Roquefort ou, nos nacionais, com um bom queijo alentejano, seja ele de Serpa, de Estremoz ou de Portalegre. Casa, também, lindamente com uma doçaria de tradição conventual portuguesa”, como as Nozes de Cascais, por exemplo. “Elegante como é, pode também ser servido como aperitivo, mas, em qualquer dos casos, sempre com moderação.”

A bordo do navio-escola Sagres (viagem de homenagem à circum-navegação de Fernão de Magalhães)  viajam 280 litros de Vinho de Carcavelos Branco, de 2011. Pedimos à Confraria que nos falasse um pouco desta aventura marítima que teve início em Janeiro.

Em Julho de 2016 a Confraria contactou a Marinha “no sentido de estudar a hipótese de, em próxima viagem mundial, o Vinho de Carcavelos seguir a bordo”. A ideia foi concretizada e tem como intuito “melhorar os atributos deste vinho”. Um pouco à semelhança da experiência centenária do Torna Viagem (ocorrida pela 1ª vez com o Moscatel de Setúbal na época oitocentista), pretende-se submeter os atributos do vinho “a fortes amplitudes térmicas, à exposição do sal, para assim adquirirem uma maior complexidade. Segundo antigos relatos, a passagem do mesmo navio pelos trópicos, a caminho do Brasil, África ou Índia, atravessando duas vezes a linha do Equador, uma na ida, outra na volta, melhorava a qualidade dos vinhos licorosos.” Vamos aguardar para provar! Terminada esta viagem, “as barricas serão abertas e o vinho será degustado em paralelo com igual barrica – a barrica “testemunha” - que entretanto ficou a repousar na adega do Casal da Manteiga. É muito provável que o “vinho-navegante” venha a apresentar uma cor diferente e um outro sabor.” Para concluir, a Confraria refere que “nesta experiência à Câmara Municipal de Oeiras, certamente, não movem interesses comerciais mas apenas interesses de índole vitivinícola no pressuposto que Vinho e Mar - suportes da nossa saúde emocional e afectiva – possam interferir numa nova vivência do Carcavelos!”

(O navio-escola Sagres está de regresso a Portugal devido à pandemia. Chegará em meados de maio. A viagem mundial do vinho de Carcavelos foi, assim, interrompida.)

Um vinho como este já ganhou prémios, naturalmente... 

“O mais premiado tem sido, sem sombra de dúvida, nestes últimos anos, o “Villa Oeiras”: desde que, em 2012 obteve no Concurso Selezione del Sindaco (Itália) uma Grande Medalha de Ouro (Golden Medal) nunca mais deixou de obter medalhas - de ouro ou de prata - em todos os concursos em que participou até 2019” Alguns dos prémios ganhos: concurso de Vinhos de Lisboa 2012 – Ouro (Gold Medal; International Wine Challenge 2013 – Silver; Concours Mondial de Bruxelles 2013 – Silver; International Wine & Spirit Competition 2014 – Silver Outstanding; International Wine Challenge 2014 – Silver; Portugal Wine Trophy – 2016 Ouro (Gold Medal). Em 2018 viu serem-lhe atribuídos seis prémios nacionais e internacionais: Prémio Prestígio da Revista Paixão pelo Vinho (Villa Oeiras Colheita 2004; Medalha Grande Ouro da ViniPortugal no Concurso Vinhos de Portugal (Villa Oeiras Colheita 2004; Medalha de Prata do Concurso Mundial de Bruxelas (Villa Oeiras Blend 15 Anos Superior); Medalha de Prata no Concurso Selezione del Sindaco (Villa Oeiras Blend 15 Anos Superior); Medalha de Ouro no Concurso Selezione del Sindaco (Villa Oeiras Colheita 2004) e Medalha de Ouro do Concurso Selezione del Sindaco (Villa Oeiras Blend 7 Anos). Mas o vinho de Carcavelos, “Quinta dos Pesos 1991”, também, foi premiado no concurso “Selezione del Sindaco” na edição de 2015, realizada em Oeiras, tendo então recebido a Grande Medalha de Ouro.

O que diria Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras, se regressasse hoje aos vinhedos de Oeyras? 

“Que a Câmara Municipal de Oeiras é um digno sucessor seu e que a Confraria do Vinho de Carcavelos honra, todos os dias, o passado. A História. Que, todos juntos e com a Câmara Municipal de Cascais e demais produtores ainda sobreviventes (Quinta dos Pesos, Seminário de Caparide, Quinta da Corrieira Grande) soubemos interpretar bem o seu legado pois recuperámos um património que é de todos nós! Que somos merecedores do seu apreço. Enfim, diria que o sabor da vida depende de quem a tempera, e que nós estamos a temperá-la muito bem!” 

Confraria dos Enófilos do Vinho de Carvavelos
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