O Renascer de um histórico
Para mim o vinho de Carcavelos foi um sempre algo de grandioso. Desde que me lembre de ser Sommelier, esteve sempre presente. Começamos uma relação mais seria na Casa da Dizima, onde tínhamos diversos Carcavelos disponíveis. Chegamos a fazer inclusive um jantar onde se degustou diferentes vinhos acompanhados pela história contada na primeira pessoa pelo saudoso e querido Professor Jorge Miranda.
O vinho de Carcavelos é isto: paixão, perseverança e acima de tudo teimosia por querer ter algo difícil de se obter, fruto da evolução da sociedade e necessidade de fazer crescer edifícios para as pessoas viverem. Algumas com a sorte de terem vista privilegiada para as vinhas, muitas vezes sem saber que ali se fazia um vinho com raízes históricas.
Se até à pouco de mais de 10 anos tínhamos poucos produtores, atualmente conseguimos ter já uma dezena de produtores que emergem no urbanismo de diferentes locais com as suas vinhas.
Enumeramos alguns com o intuito de possibilitar a procura das mesmos e, por que não uma oferta de Natal diferente.
Adega Belém 2021
Um Carcavelos com uma abordagem mais ousada. Vinho com base em uma casta tinta, Castelão, dando um perfil frutado, frutos vermelhos, mas sempre com o carisma que se encontra nestes vinhos, toque salino e fresco, a tal mineralidade. Uma forma diferente de dar a conhecer um clássico!
Escolha acertada para empadas de carne. Se quiser ser mais ousado, um bom pica pau de vaca funciona muito bem!
Quinta da Correeira 2012
Uma quinta com muitos anos a fazer Carcavelos. Foi adquirida à alguns anos pelo Jörk e Katrin. Encontraram alguns vinhos de Carcavelos sendo o de 2012 o mais valioso.
Produziram uma nova imagem, recuperando o vinho desta quinta. Apresenta-se com aromas de frutos secos, mel, caramelo, nota de barrica, que lhe confere um toque fumado. Sabor intenso, envolvente e com um toque de salinidade, característica deste vinho.
Ideal com queijos de pasta mole. Ousado com peito de pato com arroz de forno! Quinta dos Pesos, 1995
Uma das quintas que sempre acompanhou o trajeto recente do Vinho de Carcavelos. Desde vinte anos para cá que se encontra disponível no mercado, timidamente, na zona de Carcavelos e Oeiras. Um vinho que ganha em garrafa, apresentando notas fumadas, frutos secos, mel, salinidade que se sente mais no sabor. Encorpado e final longo.
Escolha acertada para acompanhar algumas sobremesas, tais como, Pão de ló, arroz- doce. Se pretende criar “burburinho”, acompanhe com pasteis de massa tenra ou com bola de carne.
Quinta da Belavista
Disponível no mercado é um vinho que considerado centenário. Um dos grandes vinhos portugueses que aguentou o tempo em que esteve escondido dos olhares e copos dos enófilos. Nunca foi fácil de encontrar, criando-se de certo modo, algo místico, que seria impossível provar. É um vinho que retém história. Um copo deste vinho é reviver o passado, perceber como foi feito e quais as suas condições para que tenha aguentado tanto tempo.
Um vinho mais seco do que se encontra no mercado, com base na casta “Galego Dourado”. Um vinho mais salino, frutos secos, caramelizados, nota de mel, fumado. Na boca, seco, acidez evidente aliada à salinidade que realça a mineralidade. Intenso, encorpado com final de entusiasmante.
Escolha acertada para tarte de amêndoa, queijos de pasta dura. Se quiser fugir do normal, uma carne assada no forno ou até mesmo um bife Wellington poderá ser desafiante e maravilhoso.
Villa Oeiras
Se não fosse a Camara de Oeiras, a sua resiliência na procura de garantir a continuação do vinho de Carcavelos, este artigo não seria escrito! Obrigado pela aposta num vinho que difícil, tanto pela falta de vinha e também pelo desconhecimento que havia à data, sobre este estilo de vinho.
São vinho que ganharam ao longo dos anos um lugar de destaque nas mesas de alguns restaurantes. Pela sua finesse, equilíbrio e qualidade.
Villa Oeiras 7 anos
Um vinho mais fresco, mais jovem, que cativa qualquer pessoa que queira começar a gostar de vinho. Elegante e frutado, com final envolvente.
Escolha acertada para queijadas ou queijos de pasta mole. Companhia ousada para um carpaccio de carne.
Villa Oeiras 15 anos
Mais denso, mais equilíbrio, mais idade que mostram que podemos guardar estes vinhos por muito tempo. Frutado, caramelo, salino, fumado e notas de tosta a lembrar a caixa de charuto do pai ou avô à alguns anos.
Escolha acertada para queijos de pasta dura. Companhia certa para mousse de chocolate, leite de creme. Ousado com carnes de caça, assadas no forno.
Para terminar temos disponível no mercado um vinho com um estilo particular, pincelado pela frescura do mar com espirros da Serra de Sintra que lhe conferem uma identidade própria.
Algo obrigatório em todos os restaurantes e nas vossas casas no concelho de Cascais. Um brinde à história e um vinho único que é produzido na nossa região.
Rodolfo Tristão